quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

Luxúria em três Atos - Parte 2

Já eram quase uma hora da manhã quando vejo três moças se aproximarem do grupo. Uma morena de pele clara, aparentando 25 anos, estatura mediana de mulher (1,65m), usava uma calça jeans super justa, uma blusinha bem fina que desenhava seu corpo pouco cuidado, e nos pés uma bota estilo surfwear. Uma mulher de beleza natural, onde se sobressaía na maquiagem que cobria seu rosto, tons acinzentados nos olhos e boca vermelho sangue.

A segunda era menor. Usava um sapato de um salto mediano, mesmo assim não era muito alta. Tinha uma pele morena de sol. Um dourado. Era a mais bonita delas. Comentei com um dos motoristas sobre essa moça e fui informado de sua idade: 16 anos. Cabelos curtos e cacheados, ela vestia uma mini-saia e uma blusinha curta que deixava sua barriga à mostra.
A terceira, uma loirinha (visivelmente de farmácia), tom de pele morena jambo, era a mais baixinha, usava uma micro vestido preto e uma meia fina vermelha e mal se equilibrava sobre um salto muito alto (cerca de uns 15cm). Aparentava ter 30 anos ou mais, tinha no olhar algo de sacana, esperta, atenta a tudo e todos, quando percebeu das muitas perguntas que lhe fazia ela perguntou se eu queria trepar ou bater papo. E pra testar sua paciência resolvi desafiá-la e disse que tava mesmo a fim de papo.


Ela ficou um pouco sem jeito e disse que ninguém quer papo. O negócio é só “fuder” e ir embora. Nesse momento senti um grito de clamor vindo dos olhos dessa moça, ela começou a falar um pouco de sua vida, disse que tem dois nomes, mas só revela o seu nome de guerra (nome usado para prostituição): Sheila. Perguntei o porque do nome e ela disse ser uma homenagem à ex-dançarina do grupo “É o Tcham”, do qual ela era fã. “Desde que comecei a usar esse nome, eu pinto meu cabelo de loira pra poder ficar parecida com ela, e os clientes gostam quando eu faço de conta que sou ela e danço pra eles”, declara Sheila, com ar de moça espevitada. Quando pergunto sobre família, ela desvia o olhar e diz que eles moram longe. Cheguei mais perto dela e em tom de segredo pedi se poderia confiar nela. Ela perguntou se eu era ladrão e na mesma hora neguei, mas queria lhe confessar algo. Ela disse: “vai, manda!”. Então lhe expliquei da situação, que sou estudante de jornalismo e estava ali para fazer uma matéria sobre prostituição. Sua expressão facial pouco mudou. Ela apenas esboçou um: “que legal!”

Um pouco decepcionado pela simples expressão que ela demonstrou, abri um leve sorriso, que foi retribuído. Sheila disse-me que poderia me ajudar e contar histórias do arco da velha, pessoas importantes da sociedade que ela já atendeu e das mais variadas maneiras. Mas o que ainda me incomodava era o fato de querer saber mais sobre sua família. Então ela olhou distante novamente e disse-me sob os olhos embargados que a família dela são seus clientes. “A minha história é triste e não merece que você perca seu tempo escutando, posso te contar histórias muito mais interessantes”. Então insisti e disse que a história que eu realmente estava a fim de ouvir era a dela.

Ela me convidou para andarmos. Então deixamos a cobertura do posto a passos largos e olhares atentos dos que ali ainda estavam. Poucos passos depois ela começa a falar. “Você parece ser um garoto muito novo. Qual sua idade”, perguntou ela. De pronto respondi ter 21anos. Ela perguntou se eu tinha pai, mãe e tudo mais, respondi que sim e todos morávamos juntos. Ela então fica com passos mais lentos e desabafa. “Esse era meu sonho, poder estudar, viver bem com meus pais, irmãos, ter uma vida e tudo que teria direito. Mas eu comecei tudo errado. Meu pai é vagabundo, não trabalha, nem lembro da última vez que ele teve um emprego fixo, minha mãe era faxineira, mas morreu de desgosto quando cai na vida. Meu pai batia na gente, ele enchia a cara, vinha do bar, fazia minha mãe dar o dinheiro pra ele e quando faltava ele alugava a gente pros amigos bêbados dele”.

“Na época eu morava na cidade de Boa Esperança, interior do Espírito Santo, fica a 280 km de Vitória. Eu tinha 14 anos, também tinha outra irmã com 16 anos e meu pai vendia a gente para os amigos dele, aturei isso durante um ano, sem minha mãe saber. Um dia ela descobriu. Eu também já não fazia só quando ele mandava, fazia por que gostava, e o dinheiro era fácil. Na época eu tinha um corpinho novinho, todo mundo queria pegar nos meus peitinhos durinhos, hoje eles só me chingam e ainda pagam pouco pelo serviço. Sei que quando sai de casa minha mãe me expulsou porque descobriu que eu era puta, sai da casa deles e vim morar no sul, vim de carona, e aqui construí minha vida fazendo programa nos postos de gasolina com caminhoneiros. Até tentei parar e trabalhar como doméstica, mas não é fácil parar por que sempre tem alguém que ainda tem teu telefone e aí a tentação do dinheiro bate e não tem jeito”.

Com os olhos lacrimejantes, e uma lágrima solitária que corria pela face, ela deu um sorriso e se recompôs. “Eu já aceitei que o meu destino é viver de ser puta e é isso que eu vou ser enquanto puder”. Depois de cerca de quarenta minutos de conversa, voltamos ao posto e ela disse que precisava ganhar a noite e já era tarde.

Retornei ao posto de combustíveis, ali realmente é um ponto de referência à prostituição, e um convite ao sexo. Ao mesmo tempo em que algumas garotas estão se mostrando aos que por ali passam, outras circulam pelo pátio, batendo de porta em porta dos caminhões e carretas, oferecendo os seus serviços. Um dos fatores mais chocantes e que funciona quase como uma regra para essas profissionais é o tarifário de baixo valor utilizado. A forma que se cobra os serviços é negociada, dependendo do pacote que o cliente pede. Esta informação eu escutei de um dos grupos de motoristas, mas queria ouvir das próprias profissionais.

Aproximei-me de uma delas e perguntei: “quanto custa o programa?” Ela me olhou de cima a baixo, era uma mulher baixinha, sua idade era de aproximadamente 40 anos, aqueles segundos de avaliação dela pareciam eternos. Então, de uma vez só ela me responde: “Você não é muito novinho pra querer uma coroa como eu?”.

Enquanto falava, ela mexia em seu corpo e levantava os peitos como se estivesse me encarando. Um pouco vermelho pelo enfrentamento, retruquei e disse estar disposto a encarar. Ela se aproximou e perguntou quanto eu oferecia, de resposta lhe disse que pagaria o preço justo. Ela me olhou com ar sério mais uma vez e despejou: “ou você realmente é muito inocente ou está querendo me irritar. Vem cá garoto, vou te dar um trato dos bons. Onde a gente pode ir?”
Disse-lhe que estava a pé, ela deu uma risada e falou: “Garoto, o negócio é o seguinte. A trepada completa é R$ 30,00, só o boquete R$ 10,00, tudo com camisinha e você tem que ter um local. Se for sem camisinha a gente tem de negociar o preço. Mas o local é contigo. Então vai querer ou não?” Disse-lhe que buscaria um local e em seguida voltava a lhe procurar, confesso que fiquei um pouco chocado com o preço do aluguel de um corpo.

Foi uma noite de vivências curiosas, nunca imaginei estar em uma situação de julgamento moral como a que passei. Foram seis horas de histórias, cenas bizarras e momentos chocantes. Muitas foram as concubinas de minha noite e histórias como essas são apenas mais uma em meio a um mundo cheio de surpresas e sobressaltos.

Um comentário:

  1. Que coragem. Não sei se teria estomago para encarar uma maratona destas. Um lado obscurecido não apenas pela marginalização mas também pela condição subumana, nos mais diversos níveis de integridade pessoal, a que são levadas estas profissionais. Não tenho o menor sentimento de repúdio, mas admito que me fazem compadecer profundamente. E ainda me dizem que isto se trata de "vida fácil". Onde estão as facilidades? Não as vejo.

    Por fim, a pergunta que não quer calar: "Voltou?"

    ResponderExcluir