Esta história propõe-se a vivenciar ângulos diferenciados deste mundo. E foi pensando nisso que na quarta-feira, dia 29 de abril de 2008, quando já passavam da meia-noite, cheguei a um bar na Avenida Centenário, em Criciúma. Na mesma rua, travestis, garotos e garotas de programa passam horas oferecendo-se aos carros e pedestres que por ali passam.
As cenas chocam os mais puritanos. Criciúma é conhecida por ser uma cidade que vive de aparências. Costume de típicas cidades interioranas. O que também é comum nessas cidades é o cinismo de seus moradores, que falam muito da vida alheia, mas não olham para suas próprias atitudes. A Avenida Centenário acabou virando um refúgio para esse tipo de público. Nas quatro horas em que estive ali, vi pessoas proeminentes da sociedade local, que mesmo casados vêem buscar na rua aventuras extraconjugais. Dizer que um mundo tão comum a tantas pessoas ainda seja assunto proibido na rodas de conversas soa mesmo como hipocrisia – e nesse mesmo tom – jogo de esconde e esconde, fui ver com meus próprios olhos o que acontece na avenida da prostituição em Criciúma.
Senti-me hipócrita por viver aquela situação às escuras, mas refletindo melhor a situação acabei concluindo que a forma que escolhi para ver aquele momento pedia esta postura. Você leitor talvez esteja curioso para saber afinal o que vi? Pois bem.
A concentração dos trabalhadores noturnos é nos arredores do supermercado Giassi. Ali, por vários momentos, pude confundir-me. Vi lindas mulheres, que na realidade eram travestis. Homens muito bem vestidos e que se não fosse eu ficar ali por um bom período não teria percebido que eram garotos de programa. Percebo em vários momentos que fui trabalhar com um conceito de prostituição já formado em minha mente. O qual teve de ser derrubado para conseguir perceber o mundo que se desnudava em minha frente. Mulheres da mais variadas formas de beleza desfilaram por mim nesta noite, loiras, morenas peitudas e mulheres de bubum avantajado. Todas com o mesmo objetivo. O sustento próprio.
Há duas horas e meia observando o que se passava, não me contive e precisei circular dentre todas para sentir o clima. Receoso pelas histórias de violência que conheço deste local, enchi-me de coragem e adentrei a rua. Mirei um grupo que me encarava e a passos firmes e largos percebi naquele grupo misto uma garota, duas travestis e um rapaz. Abordei o grupo e eles vieram todos se insinuando: “Aê, ta afim de uma festinha?”. Um pouco sem jeito perguntei os valores de cada um. A faixa de preço era muito parecida, girava entre R$ 30,00 (as travestis) e R$ 50,00 (a garota e o garoto). Agradeci a informação e sob muitas provocações segui em frente. Achei curioso como me senti envergonhado diante de uma situação que julgo ser tão normal, creio que o receio do julgamento social, mesmo para mim, que me sinto com uma cabeça aberta, pesou.
E para finalizar esta incursão fui sentir na pele como seria vender meu próprio corpo. Não no meio “comum” da prostituição, mas sim na nova forma de exposição, a internet. Com seu advento criou-se em torno deste meio uma indústria sexual, um território livre, e sem leis, onde cada um coloca-se da maneira que melhor lhe convir. Homens e mulheres, criminosos e pessoas de bem. Todos se utilizam da mesma ferramenta com objetivos diversos. Entrar em um chat ou sala de bate-papo, como também é conhecida, é se tornar isca fácil de pessoas em busca de aventuras sexuais. O segredo da identidade ajuda a tornar tudo mais cômodo. Devo confessar que em momento algum cogitei a idéia de realizar a tarefa até o fim, ou seja, realizar o programa. Não acredito que para realizar um jornalismo de vivências seja necessário sentir na pele todas as sensações necessárias. Tudo têm seus limites e o meu começa nos meus valores morais. Com esses delírios de minha mente, na sexta-feira, dia 18 de abril de 2008, anunciei em um chat da internet meus serviços de prostituto.
Entro na sala me identificando como “Garoto de programa” e logo anunciei: “Homem, alto, olhos verdes, acompanhante, nível universitário”. Com esse anúncio recebi propostas das mais variadas formas. Todos queriam desfrutar de um corpo com atributos tidos como ideais de beleza e desejo sexual pela sociedade.
A primeira cliente em potencial que se mostra interessada era uma pessoa que se descrevia como uma mulher de 22 anos, empresária e solteira. Em seu relato reclamava o fato de sentir-se muito sozinha e buscava uma relação sexual para saciar a solidão da vida moderna. Um típico caso de estresse pós-moderno. Ela falava com um bom vocabulário, parecia ser uma mulher de fibra, dessas que não é qualquer marmanjo que dobra fácil. Esse estilo “poderosa” de ser da mulher de negócios assusta alguns exemplares de homens, que pelo machismo de sua criação não conseguem aceitar o sucesso profissional de sua parceira.
Meu segundo cliente era um homem. Disse apenas que era jovem e solteiro, se dizia homossexual, buscava uma companhia discreta e agradável e dizia pagar bem. Perguntado sobre sua vida, ele desviava o assunto. Relatava que preferia manter sigilo sobre sua vida particular, mesmo assim consegui a informação de que trabalhava em uma loja de materiais de construção bem conceituada na cidade de Criciúma. Esse me deu trabalho para desviar e cair fora. Ele insistia que poderia me pagar o dobro do valor que eu cobrava pelo programa. Ele já estava oferecendo R$ 300,00 por uma hora de prazeres carnais. O único meio de fugir foi abandonar a sala de bate-papo.
Não quis parar por aqui e no outro dia voltei ao mesmo chat, em busca de novas histórias e prováveis clientes. A sensação de estar oferecendo meu próprio corpo a uma pessoa que nem ao menos sei como é gera extrema insegurança, impotência diante a situação que vai se formando. A caçada precisava recomeçar e lá fui eu anunciando mais uma vez meus serviços de prostituto com o mesmo nickname.
Muitas pessoas vêm e perguntam o valor e quando obtêm a resposta param de teclar. Creio que a curiosidade de chegar em alguém e perguntar o quanto ela custa é uma vaidade do ser humano. Eles não têm essa coragem para perguntar a alguém na rua e numa oportunidade anônima realizam seus desejos ocultos. Para estabelecer o valor que iria anunciar não tive embasamento algum. Apenas estipulei um valor que me parecesse interessante para as duas partes, levando em consideração que a forma como me ofereci era para uma clientela de luxo.
Minha última cliente realmente foi uma surpresa. A mais gloriosa de todas, afinal com ela me senti com a sensação de dever cumprido. Ela usa o nome de “coroa procura”. Puxou papo de uma maneira ímpar em comparação aos outros clientes. Disse boa noite, perguntou como eu estava e com toda a cordialidade e delicadeza possível perguntou se eu estava disponível e se apresentou como uma senhora de 63 anos que era casada, mas buscava uma aventura fora do casamento, seu companheiro não mais a satisfazia. Disse que costumeiramente contratava os serviços de garotos de programa e o fazia pela praticidade “Não quero alardes, se tenho prazer pagando, ninguém precisa saber disso. Principalmente meu marido”.
Uma experiência ímpar. Assim posso definir o que significou a execução desta matéria para mim. O cheiro do sexo é algo que esta em nós. Somos provocados o tempo todo. Mexer com a libido de qualquer um é uma forma de poder. Senti-me sendo colocado à prova e ao mesmo tempo em que venci meus valores, fiz uma auto-avaliação de meu caráter o que, precisou de coragem e muita personalidade. Saber que alguém esta te julgando, que alguém quer ter seu corpo por que esta pagando é algo que realmente assusta.
As cenas chocam os mais puritanos. Criciúma é conhecida por ser uma cidade que vive de aparências. Costume de típicas cidades interioranas. O que também é comum nessas cidades é o cinismo de seus moradores, que falam muito da vida alheia, mas não olham para suas próprias atitudes. A Avenida Centenário acabou virando um refúgio para esse tipo de público. Nas quatro horas em que estive ali, vi pessoas proeminentes da sociedade local, que mesmo casados vêem buscar na rua aventuras extraconjugais. Dizer que um mundo tão comum a tantas pessoas ainda seja assunto proibido na rodas de conversas soa mesmo como hipocrisia – e nesse mesmo tom – jogo de esconde e esconde, fui ver com meus próprios olhos o que acontece na avenida da prostituição em Criciúma.
Senti-me hipócrita por viver aquela situação às escuras, mas refletindo melhor a situação acabei concluindo que a forma que escolhi para ver aquele momento pedia esta postura. Você leitor talvez esteja curioso para saber afinal o que vi? Pois bem.
A concentração dos trabalhadores noturnos é nos arredores do supermercado Giassi. Ali, por vários momentos, pude confundir-me. Vi lindas mulheres, que na realidade eram travestis. Homens muito bem vestidos e que se não fosse eu ficar ali por um bom período não teria percebido que eram garotos de programa. Percebo em vários momentos que fui trabalhar com um conceito de prostituição já formado em minha mente. O qual teve de ser derrubado para conseguir perceber o mundo que se desnudava em minha frente. Mulheres da mais variadas formas de beleza desfilaram por mim nesta noite, loiras, morenas peitudas e mulheres de bubum avantajado. Todas com o mesmo objetivo. O sustento próprio.
Há duas horas e meia observando o que se passava, não me contive e precisei circular dentre todas para sentir o clima. Receoso pelas histórias de violência que conheço deste local, enchi-me de coragem e adentrei a rua. Mirei um grupo que me encarava e a passos firmes e largos percebi naquele grupo misto uma garota, duas travestis e um rapaz. Abordei o grupo e eles vieram todos se insinuando: “Aê, ta afim de uma festinha?”. Um pouco sem jeito perguntei os valores de cada um. A faixa de preço era muito parecida, girava entre R$ 30,00 (as travestis) e R$ 50,00 (a garota e o garoto). Agradeci a informação e sob muitas provocações segui em frente. Achei curioso como me senti envergonhado diante de uma situação que julgo ser tão normal, creio que o receio do julgamento social, mesmo para mim, que me sinto com uma cabeça aberta, pesou.
E para finalizar esta incursão fui sentir na pele como seria vender meu próprio corpo. Não no meio “comum” da prostituição, mas sim na nova forma de exposição, a internet. Com seu advento criou-se em torno deste meio uma indústria sexual, um território livre, e sem leis, onde cada um coloca-se da maneira que melhor lhe convir. Homens e mulheres, criminosos e pessoas de bem. Todos se utilizam da mesma ferramenta com objetivos diversos. Entrar em um chat ou sala de bate-papo, como também é conhecida, é se tornar isca fácil de pessoas em busca de aventuras sexuais. O segredo da identidade ajuda a tornar tudo mais cômodo. Devo confessar que em momento algum cogitei a idéia de realizar a tarefa até o fim, ou seja, realizar o programa. Não acredito que para realizar um jornalismo de vivências seja necessário sentir na pele todas as sensações necessárias. Tudo têm seus limites e o meu começa nos meus valores morais. Com esses delírios de minha mente, na sexta-feira, dia 18 de abril de 2008, anunciei em um chat da internet meus serviços de prostituto.
Entro na sala me identificando como “Garoto de programa” e logo anunciei: “Homem, alto, olhos verdes, acompanhante, nível universitário”. Com esse anúncio recebi propostas das mais variadas formas. Todos queriam desfrutar de um corpo com atributos tidos como ideais de beleza e desejo sexual pela sociedade.
A primeira cliente em potencial que se mostra interessada era uma pessoa que se descrevia como uma mulher de 22 anos, empresária e solteira. Em seu relato reclamava o fato de sentir-se muito sozinha e buscava uma relação sexual para saciar a solidão da vida moderna. Um típico caso de estresse pós-moderno. Ela falava com um bom vocabulário, parecia ser uma mulher de fibra, dessas que não é qualquer marmanjo que dobra fácil. Esse estilo “poderosa” de ser da mulher de negócios assusta alguns exemplares de homens, que pelo machismo de sua criação não conseguem aceitar o sucesso profissional de sua parceira.
Meu segundo cliente era um homem. Disse apenas que era jovem e solteiro, se dizia homossexual, buscava uma companhia discreta e agradável e dizia pagar bem. Perguntado sobre sua vida, ele desviava o assunto. Relatava que preferia manter sigilo sobre sua vida particular, mesmo assim consegui a informação de que trabalhava em uma loja de materiais de construção bem conceituada na cidade de Criciúma. Esse me deu trabalho para desviar e cair fora. Ele insistia que poderia me pagar o dobro do valor que eu cobrava pelo programa. Ele já estava oferecendo R$ 300,00 por uma hora de prazeres carnais. O único meio de fugir foi abandonar a sala de bate-papo.
Não quis parar por aqui e no outro dia voltei ao mesmo chat, em busca de novas histórias e prováveis clientes. A sensação de estar oferecendo meu próprio corpo a uma pessoa que nem ao menos sei como é gera extrema insegurança, impotência diante a situação que vai se formando. A caçada precisava recomeçar e lá fui eu anunciando mais uma vez meus serviços de prostituto com o mesmo nickname.
Muitas pessoas vêm e perguntam o valor e quando obtêm a resposta param de teclar. Creio que a curiosidade de chegar em alguém e perguntar o quanto ela custa é uma vaidade do ser humano. Eles não têm essa coragem para perguntar a alguém na rua e numa oportunidade anônima realizam seus desejos ocultos. Para estabelecer o valor que iria anunciar não tive embasamento algum. Apenas estipulei um valor que me parecesse interessante para as duas partes, levando em consideração que a forma como me ofereci era para uma clientela de luxo.
Minha última cliente realmente foi uma surpresa. A mais gloriosa de todas, afinal com ela me senti com a sensação de dever cumprido. Ela usa o nome de “coroa procura”. Puxou papo de uma maneira ímpar em comparação aos outros clientes. Disse boa noite, perguntou como eu estava e com toda a cordialidade e delicadeza possível perguntou se eu estava disponível e se apresentou como uma senhora de 63 anos que era casada, mas buscava uma aventura fora do casamento, seu companheiro não mais a satisfazia. Disse que costumeiramente contratava os serviços de garotos de programa e o fazia pela praticidade “Não quero alardes, se tenho prazer pagando, ninguém precisa saber disso. Principalmente meu marido”.
Uma experiência ímpar. Assim posso definir o que significou a execução desta matéria para mim. O cheiro do sexo é algo que esta em nós. Somos provocados o tempo todo. Mexer com a libido de qualquer um é uma forma de poder. Senti-me sendo colocado à prova e ao mesmo tempo em que venci meus valores, fiz uma auto-avaliação de meu caráter o que, precisou de coragem e muita personalidade. Saber que alguém esta te julgando, que alguém quer ter seu corpo por que esta pagando é algo que realmente assusta.
realmente, dava pra encher um Extra.
ResponderExcluirEu sou fascinado pela sujeira e friesa das cidades maiores (grandes, e metrópoles). Toda a sua decadência é poética, dolorosamente poética.
ResponderExcluirMas há muito pelo que se lamentar. Não vejo problemas se você é feliz (verdadeiramente) quando ganha dinheiro fazendo sexo. Mas acho que é amargo demais fazê-lo quando se pensa não ter outra alternativa, ou guando o rumo que a vida tomou foi este e pronto.
Outra coisa que me chateia demasiadamente é a hipocrisia, entre outra coisas. As aparecencias, ou viver delas, são coisas medíocres demais, me causam verdadeiro asco. Tanto em relação aos homosexuais enrustido e homem "de bem", "da high society", até mesmo as senhoras ninfomaníacas.
Mas por fim, é como eu custumo plajear: "Sua cabeça, seu guia".
Parabéns pelo seu trabalho fantástico e certamente audacioso. Realmente muito interessante.
J.